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Fátima Baroni Tonezer

Como viver experiências sem cometer erros?

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Estamos há 35 dias vivendo esse novo ciclo chamado 2024. E depois destes 35 dias de volta a nossa rotina, será que ainda mantemos o foco e empregamos esforço e determinação na busca daquilo que sonhamos e planejamos?

A Europa tem um nome para essa época do ano, a “Blue Monday” (segunda-feira azul em tradução livre).  A data foi estabelecida baseada no estudo do psicólogo Cliff Arnall, do País de Gales. Em 2005, ele criou uma equação que aponta que a terceira segunda-feira do ano é a mais triste.

Isso porque as pessoas costumam sentir culpa pelos gastos excessivos nas festas de Natal, assim como melancolia pelo fim das férias, falta de motivação, inverno lá, e aqui no Brasil a chegada dos boletos dos impostos a serem pagos, material escolar… 

O fato de que as mudanças que sonharam não se concretizaram como passe de mágica quando o calendário mudou também incomoda. É a falta de entendimento que o resultado de qualquer objetivo é alcançado nos passos diários que damos. Às vezes, nem percebemos, mas algo que fizemos ou deixamos de fazer, um hábito que não repetimos, nos coloca um passo mais perto, ou mais longe,  do resultado.

ENTENDER, ACEITAR E ACOLHER AS DIFICULDADES NO CAMINHO!

Não desenvolvemos, nem fomos ensinados, o hábito de olhar e reconhecer nossas pequenas ações. Isto porque só temos olhos para o todo, para o conjunto completo, acabado. Até meados de 2020 eu atendia crianças na clínica. Às vezes, uma criança escolhia montar um quebra-cabeça e depois de alguns minutos, quando começava a ficar frustrada por não conseguir montar rapidamente, eu dava uma dica: vamos separar e formar os contornos da figura. Para isso vamos separar todas as peças que têm uma ou duas partes retas. Então montamos o contorno da figura. Quando a figura estava “enquadrada”, isto é, conseguíamos ver o limite e ter uma noção da figura, facilitava ir encontrando as peças e montar a figura.

Por que trouxe essa memória aqui? Para que possamos perceber que quando, para além das metas, tenho clareza dos limites, da totalidade do objetivo e estabeleço pequenos passos ou micro tarefas, e junto vou observando e reconhecendo o que já está feito, fica mais fácil continuar caminhando. Além de diminuir a ansiedade que estará lá, durante o caminho.

Entender que seja para montar um quebra-cabeça, com dez ou mil peças ou qualquer outro objetivo, definir pequenas tarefas, dar um passo de cada vez e reconhecer o que está surgindo é essencial. Essa ação faz parte da essência da gratidão. Ser grata(o) pelo que foi possível hoje.

E QUAL A DIFICULDADE PARA FAZER ISSO? POR QUE NÃO CONSEGUIMOS FAZER ISSO NATURALMENTE?

Primeiro porque não somos ensinados dessa maneira. Não aprendemos a reconhecer e elogiarmos a nós mesmos. Ao contrário, aprendemos que isso é egoísmo. E mais tarde, que com dois ou três passos (pílulas mágicas) chegaremos no resultado, sem esforço e dedicação. Propaganda do tipo “com um celular, uma hora, vou te ensinar como ganhar mil reais por dia”, que abunda na internet. E que não mostra o esforço efetivamente colocado no caminho. Ah! E se você não consegue o problema é só você, que não está fazendo o que te “ensinaram” e que dá certo para todos (que todos???).

Essas propagandas todas estão há muito tempo nos desviando do único caminho que trouxe o ser humano ao século XXI – a colaboração entre humanos. A nossa cultura atual é definida pela escassez, mais imaginária que real, pelo medo e pela incerteza, que atrapalha a coragem de quebrar esse “conforto” vendido e nos afasta de nós mesmos e dos nossos semelhantes. A coragem aqui entendida como aceitar os erros, defeitos, críticas e imprevistos que acontecem no meio do caminho de uma jornada para o sucesso. O seu sucesso, não o da mídia.

É a coragem de ser vulnerável que de fato o ser humano é. Como espécie humana só chegamos ao alto da cadeia da evolução, como gostamos de gargantear, por que nos unimos, cooperamos e colaboramos uns com os outros. E nos arriscamos.

NÃO HÁ CORAGEM SEM VULNERABILIDADE!

O psicólogo estadunidense Carl Rogers já falava do curioso paradoxo que é “quando me aceito como sou, então eu mudo”. Provavelmente você, ou alguém que você conheça, já passou pela situação de pensar em dizer alguma coisa, seja numa reunião, para questionar um amigo ou dar uma sugestão num projeto, e preferiu ficar calado por medo da rejeição. Esse é o paradoxo da autoaceitação. Quando você se aceita, para de lutar contra si, para de se culpar e de culpar os outros, e toda a energia presa no ressentimento e na mágoa volta a ficar disponível para você.

Por isso não há coragem sem vulnerabilidade. É exatamente o medo, a falta de aceitação da vulnerabilidade em ouvir uma crítica, uma negativa, ser contrariada(o) ou “não ser amado(a)” que impede a pessoa de se expressar. Vulnerabilidade é isso. É ter coragem de aparecer, ser você, mesmo quando você não consegue controlar o resultado. E para isso, o autoconhecimento é essencial.

A primeira coragem de que precisamos é a de olhar para nosso interior e reconhecer que somos falíveis, entender nossas emoções, motivações e medos, isto é, quem somos em nossa essência. Para ter luz, clareza, é preciso enfrentar a escuridão. Entender nossa escuridão é aprender onde iluminar para ter maior crescimento e aproveitamento da vida. Carl Gustav Jung, contemporâneo de Sigmund Freud no século passado, já falava das nossas sombras, e dizia que ali estão muitas das nossas maiores forças.

Vamos continuar conversando sobre vulnerabilidade? Nos vemos na próxima segunda-feira, dia 12.

Até lá.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

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