Fale com a gente

Fátima Baroni Tonezer

Dizem que sou desastrada. Além disso, não consigo terminar o que começo, não tenho acabativa!

Publicado

em

Essa é uma reclamação muito constante em algumas pessoas. Acreditam que são estabanadas, desastradas, porque deixam cair as coisas, atropelam os móveis e começam muitas coisas e não terminam. O que pode ser?!

VOCÊ JÁ OUVIU FALAR DE TDAH EM ADULTOS?

Há pouco anos ainda se acreditava que Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) era uma doença infantil que naturalmente entraria em remissão, ou seja, desapareceria durante a adolescência. O TADH ocorre em crianças e adultos, de ambos os gêneros, atingindo todos os grupos étnicos, camadas socioeconômicas, níveis de escolaridade e graus de inteligência.

Hoje já sabemos que apenas um terço (1/3) da população com TDAH vai superá-lo na adolescência e dois terços (2/3) conviverão com o transtorno por toda a vida. Isto nos leva ao mundo real, onde centenas de pessoas buscam médicos e todo tipo de ajuda para recuperar a memória, já que se vê desatento, com dificuldade de guardar informações, aprender e manter o foco numa leitura, por exemplo. Outros relatam toda sorte de dificuldades na fase escolar, quando chegaram à conclusão de que não eram tão inteligentes ou bons quanto o irmão ou a prima.

Na escola era aquela criança que se esforçava muito para aprender, mas falava demais, e a mãe era chamada para conversar com a pedagoga e a professora e ouvia que o filho(a) dela era uma criança boa, MAS que se esforçasse um pouco e falasse menos seria ótimo(a) aluno(a). Porém, a criança com TDAH já se esforça muito, mas não é o suficiente para atender as expectativas sociais, não se adequa ao “script” da sociedade. Isso por um lado leva as pessoas ao redor cobrar todo tipo de atitudes desta criança, se esforçar mais, ser menos preguiçosa, prestar mais atenção, ser igual a fulana ou ao ciclano…

Por outro lado, a criança/adolescente enquanto “usuário(a)” deste “manual social” percebe que não se encaixa e começa a se sentir errada. O fato de não se “ver igual”, de não agradar os outros, vai criar uma série de dificuldades que vão se materializando no comportamento com o passar do tempo.

MAS, O QUE SIGNIFICA TDAH?

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5), o TDAH se classifica entre os transtornos do neurodesenvolvimento, que são caracterizados por dificuldades no desenvolvimento que se manifestam precocemente e influenciam o funcionamento pessoal, social, acadêmico ou pessoal.

O TDAH é um transtorno neurobiológico reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que afeta o desenvolvimento psicomotor da criança, sobretudo as seguintes áreas: o equilíbrio, a noção espaço-temporal e o esquema e corporal. É um transtorno porque afeta o funcionamento global do indivíduo. O TDAH acontece por um mau funcionamento neurobiológico (da bioquímica do cérebro), de acordo com estudos, nas regiões pré-frontal e pré-motora do cérebro. Como a região pré-frontal é a principal reguladora do comportamento humano, segundo a neurociência, as falhas na bioquímica desta região seriam as causas das alterações encontradas no TDAH – impulsos e inquietação. É importante ressaltar que há o componente familiar, isto é, a carga genética.

O TDAH é um transtorno que se caracteriza por uma tríade de sintomas – falta de concentração, impulsividade e hiperatividade. Os Estados Unidos têm cerca de 17 milhões de pessoas que sofrem com esse problema. No Brasil, apesar de não termos estatísticas confiáveis, estima-se que esta patologia atinja três milhões de brasileiros. Apesar de que a maioria nem sabe que tem, já que nunca foram diagnosticados.

A INFÂNCIA DO TDAH É DIFÍCIL, MAS QUANDO CRESCE, AS DIFICULDADES CONTINUAM

A condição básica para o diagnóstico do problema em adolescentes e adultos é a história de TDAH na infância, com aparecimento antes dos sete anos. A ajuda de parentes e amigos nessa fase é muito importante. No adulto, a condição se manifesta por meio de sinais como dificuldade de se manter focado na mesma tarefa, como uma leitura; problema para estabelecer estratégias para resolver questões do dia a dia, inclusive no trabalho; procrastinação de tarefas que exigem mais esforço; dificuldade de se manter no mesmo relacionamento, num curso ou no trabalho; maior incidência de acidentes de trânsito; intolerância à frustração; dificuldade de esperar a vez ou mesmo de se manter parado numa cadeira ou na mesma posição; falar mais do que se deve, entre outros sinais.

Acredita-se, hoje, que o déficit de um neurotransmissor chamado dopamina no cérebro seja o principal causador do TDAH, já que é essa substância no cérebro que nos ajuda a manter o foco, nos dá maior concentração; capacidade de resolver problemas; flexibilidade mental para tolerar frustrações e nos engajar em novas soluções.

O diagnóstico na fase adulta é um desafio e é muito necessário, pois os sintomas podem afetar a qualidade de vida do portador em diversas áreas: profissional, nos relacionamentos de modo geral e na administração das atividades diárias, entre outras. Como muitos adultos não sabem que têm um transtorno, é comum surgirem frustração e insegurança como consequências das dificuldades em realizar atividades corriqueiras de rotina.

QUAIS OS SINTOMAS DO TDAH EM ADULTOS?

Entre os principais sintomas do TDAH em adultos estão instabilidade emocional, mudanças repentinas de humor e pouca tolerância à frustração. Esses comportamentos interferem diretamente na vida profissional e acadêmica do indivíduo, bem como em seus relacionamentos afetivos e interpessoais. Os resultados não conquistados ou uma reação extrema diante de um descontrole emocional podem gerar frustração e baixa autoestima na vida adulta.

Os sinais de alerta para o TDAH em adultos são: dificuldades em organizar as tarefas diárias; tendência a ser desorganizado e a perder objetos; irritação com tarefas repetitivas ou monótonas; preferência por ambientes agitados; numa conversa, começa a falar antes do fim de uma pergunta ou de uma resposta; distração e “sonhos acordados” constantes, principalmente quando está lendo ou ouvindo por obrigação; períodos de sonolência durante o dia; falhas de memória; comportamento impulsivo, isto é falar e agir sem medir consequências; alterações rápidas de humor; em alguns casos, envolvimento com drogas (álcool, cocaína e maconha).

Geralmente, o adulto TDAH tem muita dificuldade de lidar com o tédio, procrastina em atividades importantes para sua rotina, deixando, por exemplo, para fazer o relatório mensal do departamento no último minuto, enquanto se envolve com outras atividades mais prazerosas, mas menos necessárias, ou deixa para estudar para a prova na semana do concurso, já que tem dificuldade em criar e manter uma rotina, e sente muita ansiedade.

COMO SEI SE TENHO TDAH?

O  diagnóstico preciso desse transtorno poderá ser feito por um médico (psiquiatra ou neurologista) e por psicólogos. E apesar de não haver cura, como citado anteriormente no artigo, os sintomas podem ser controlados e o portador conseguir lidar com as demandas do dia a dia, mantendo a qualidade de vida e alcançando os resultados que almeja. O tratamento de base passa pela prescrição de medicamentos, a critério e feito unicamente pelo médico, e psicoterapia. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ajuda o portador a desenvolver recursos para viver com mais qualidade, já que o permite entender e controlar seus anseios e dificuldades.

O tratamento pode ou não incluir medicamentos, mas precisa estar atento para a presença de comorbidades, como, por exemplo, depressão, Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), ansiedade, insônia, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e tendências ao uso de substâncias ilícitas. Além disso, pode ser indicada uma mudança nos hábitos alimentares, com a redução de açúcar e cafeína, a inclusão de atividades físicas e o cuidado com a qualidade do sono.

Ainda há muita desinformação sobre o TDAH adulto, o que leva à perda de qualidade de vida e limitações no desempenho do portador.

O tratamento com um especialista pode ajudar a mudar o rumo de uma vida. Então, se você tem dúvidas quanto ao diagnóstico, não deixe de buscar o auxílio de um profissional especialista na área.

Quando falamos de TDAH, surgem alguns questionamentos a respeito de outros comportamentos que também caracterizam transtornos. Nos últimos anos temos enfrentado sofrimento associado ao nosso corpo e imagem projetada na sociedade.

Na próxima semana, vamos conversar sobre esses transtornos, que, de forma diferente do TDAH, também incomodam e atrapalham nossa rotina e saúde.

Ficou curiosa(o)? Não perca a coluna da próxima segunda-feira, dia 3 de abril.

Até lá!

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

@psicofatimabaroni

Copyright © 2017 O Presente