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Fátima Baroni Tonezer

Relacionamento tóxico: o inimigo dorme ao lado

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O ser humano se constrói nas relações. Uma das perguntas mais antigas e complexas é: o que é ser humano?

Primeiro vamos entender o que é ser. Segundo os dicionários, ser é um verbo de ligação que indica um estado, podendo formar um predicado do sujeito. Já humano é relativo ao homem (Homo Sapiens). Sem entrar no mérito da discussão, que é longa e foge do contexto deste artigo, ser humano é caracterizado como um ser vivo racional. Enquanto humano é sujeito em intersubjetividades no mundo, pessoa é um eu, centro pessoal autoconsciente. Logo, podemos voltar ao topo do texto e complementar que ser humano é um ser de relações interpessoais e intrapessoal. Aí chegamos ao tema de hoje.

O SER HUMANO SE CONSTRÓI NAS RELAÇÕES

Enquanto espécie e pessoa, todos nós buscamos relacionamentos saudáveis, com presença de confiança, autonomia, respeito, apoio mútuo, parceria… Enfim, a lista é grande, de acordo com as necessidades de cada pessoa. No fundo, todos buscam alguém especial para compartilhar os momentos bons e ruins, nos sentirmos amados e acolhidos.

O relacionamento saudável não é composto somente de amor, embora este seja fundamental. Os parceiros precisam estar atentos e dispostos a ceder de vez em quando, e mesmo na discordância, o respeito e a compaixão estar presentes.

SINAIS DE RELACIONAMENTO SAUDÁVEL

O elemento essencial em qualquer relacionamento, afetivo, de trabalho, amizade ou social, é a comunicação. É através do diálogo claro, firme e sincero que são expressos sentimentos, intenções, desejos e projetos.

O relacionamento saudável não dá espaço para mal-entendidos, raivas e ressentimentos. Qualquer situação, por mais tensa, será resolvida na mesa do diálogo, com respeito. O diálogo, a comunicação fluída entre os envolvidos não dá lado para o medo, o receio, as omissões e as mentiras. Há também espaço para expressões de emoções, tornando a convivência agradável.

Haverá brigas, com certeza, é do ser humano sofrer alterações, seja hormonal (TPM, por exemplo) ou emocionais (tristeza, estresse, cansaço, noites mal dormidas). O respeito ao tempo do outro ajuda a restabelecer a tranquilidade.

Outro sinal de relacionamento saudável é a liberdade de fazer o que gosta, seja sair com amigos,  estudar, trabalhar, viajar, isto é, praticamente fazer o que gosta. Esta liberdade é de mão dupla, vale para o outro também. Ninguém precisa alterar o comportamento para ser aceito, assim como também não tem a obrigação de estar disponível 24 horas ou fazer tudo junto. E aqueles hábitos que geram conflitos, como atrasos, desorganização, podem ser conversados e um acordo que agrade os dois pode ser costurado. De novo, respeito, apoio e incentivo.

MAS E QUANDO NÃO É ASSIM?!

SINAIS DE QUE VOCÊ VIVE EM UM RELACIONAMENTO ABUSIVO.

VOCÊ SABE IDENTIFICAR SE ESTÁ EM UM RELACIONAMENTO ABUSIVO?

Quando na relação falta respeito, acolhimento e apoio, precisamos ligar o “pisca alerta”. Isto porque um relacionamento tóxico se caracteriza pela falta de apoio mútuo, pela competição, desrespeito, por conflitos.

O relacionamento tóxico é composto por um lado agressivo, controlador, que manipula e cria sentimentos de menos valia e culpa. E outro lado com baixa autoestima, que se sente culpado, incapaz, frágil e dependente.

É uma relação altamente desgastante para a vida emocional dos envolvidos, e pode envolver diversos tipos de violências: física, psicológica, emocional, financeira, sexual, entre outras.

Nem sempre os sinais são claros, como na violência física, que pode ser visto e reconhecido por outras pessoas ao redor. Muitas são sutis, como os que envolvem o psicológico e o emocional. São muitas formas de se manifestar a toxicidade, mas podemos destacar a falta de apoio, a comunicação agressiva, ansiedade, medo, ciúmes, ameaças, críticas e comparações.

COMO SAIR DE UM RELACIONAMENTO ABUSIVO?

A pessoa que é subjugada, abusada, tem muita dificuldade de perceber isso, pois acaba envolvida numa nuvem de culpa e incapacidade imposta pelo outro. E mesmo depois de enxergar os sinais é difícil sair, pois a pessoa está psicológica e emocionalmente afetada.

O primeiro passo para lidar com esta situação é buscar ajuda especializada. Na psicoterapia, a(o) psicóloga(o) vai ajudar a conectar os fatos, (re)construir a autoestima, discutir formas de se sustentar (quando for o caso), enfim, auxiliar a pessoa a descobrir e entender o que está sentindo e vivendo, recursos para superar o medo e lidar com o luto da separação. Porque sim, vai ter luto.

É um processo longo e doloroso. Mas não tão dolorosos e longo quanto continuar onde está, numa marcha de destruição do ser. E ninguém precisa passar por isso sozinho(a). Por isso é tão importante, ao entrar em um relacionamento, não romper a rede de amizades, afetos e cuidados construídos ao longo dos anos por causa de uma pessoa. Estar num relacionamento abusivo acaba com a autoestima, o autorrespeito, a autocompaixão e o amor-próprio.

Mas e quando o abusador não é o outro? Quer entender quando isso acontece? Não perca a coluna da próxima segunda-feira, dia 26. E me acompanhe nas redes sociais.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

@psicofatimabaroni

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