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Fátima Baroni Tonezer

Você sabe encerrar ciclos? O que fazer para encerrar ciclos e evitar as repetições!

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O luto passa por muitas fases, dolorosas, difíceis, necessárias, que ao final nos leva a fazer as pazes, comigo e com o outro, a manter as recordações, sentir saudades e continuar vivendo.

O perigo é quando o luto é negado, não vivido. Um risco que todos sofremos numa sociedade que faz questão de avisar que o mundo não vai parar enquanto você chora, que não há tempo para a dor e o sofrimento. A dor negada se amplifica e em algum momento, explode.

Isto porque negar a dor e evitar entrar em contato com ela, não a faz desaparecer, só escamoteia, só dá a sensação de que a vida continua seu fluxo, enquanto o sofrimento vai abrindo feridas que minam as forças e o brilho da vida.

Enfrentar a dor da perda de um ente querido exige um olhar interno, lidar com os medos, culpas, escolhas e decisões que foram tomadas num contexto determinado. Mas tão difícil quanto lidar com a perda de uma pessoa importante que deixou de existir, é lidar com as perdas que ocorrem com todos(as) nós durante a jornada da vida.

E é tão importante fazer as pazes com nosso passado! Entender que naquele momento foi feito, dito e vivido o que podia, que era o melhor ou a resposta possível para a situação.

COMO SUPERAR O LUTO DE UMA SEPARAÇÃO?

Este é um assunto muito delicado, e lidar com uma separação passa por fases muito semelhantes ao luto pela morte. Dói muito e leva tempos diferentes para pessoas diferentes. E há os que nunca se libertam da mágoa e sofrimento.

Quando um relacionamento acaba, e não importa o tempo que ele durou, acabam junto sonhos e expectativas que criamos para e com aquela pessoa. E parece que sempre um dos dois é “pego” de surpresa, porque a vida estava indo tão bem, tudo certo e de repente uma traição ou um aviso de que não dá mais, que não quer mais. E vem um turbilhão de perguntas e as lembranças de como era bom. Porque na correria do dia a dia ou nas repetições de crenças não nos permitimos ver que não está bom, que algo precisa mudar. Não percebemos os sinais.

E quando o outro quebra o contrato, vem a revolta, a decepção, a frustração, a culpa. Mesmo quando não há a traição física (sexual), o outro se sente traído nas suas expectativas. E vem também os “conselhos” e palpites de todos os lados; “amigos” que vêm contar o que viam, outros que dizem para ter calma que vai passar e aqueles que te “chamam” à razão e avisam que você precisa ser forte porque o mundo não para enquanto você chora.

Mesmo aquele que resolve sair da relação precisa parar e lidar com o luto. Geralmente nessas horas a pessoa só vai se afastando e negando sentimentos. E corremos o risco de repetir os mesmos erros.

Quem fica, que foi deixado, fica com a carga de entender e lidar com a perda. E perdemos muito tempo querendo entender onde foi que erramos, o que foi que aconteceu, ou culpando o outro, não aceitando o fim, num misto de revolta e arrependimento. Nos culpando por erros e situações, ou culpando o outro por erros, querendo que volte tudo a ser como antes, que o outro volte e, ao mesmo tempo, odiando o outro que aparentemente está seguindo a vida. “Estalqueando”, perseguindo o outro nas redes sociais, cobrando por que ele foi ao mesmo restaurante que vocês frequentavam ou por que ele nunca me levou naquele lugar, e assim vai perpetuando a negação e o sofrimento.

COMO RESSIGNIFICAR O FIM DO RELACIONAMENTO E VOLTAR A VIVER??

Um primeiro passo para aceitar o rompimento é olhar para si. De certa forma, fechar os ouvidos para a nossa cultura que rejeita a dor e nos incentiva a sair e procurar outra pessoa, a ser forte, sem olhar para sua dor, assumir que seu “mundo caiu”. Todo relacionamento romântico é um compromisso profundo, que traz junto consigo muitas perspectivas e crenças. O término é constrangedor, frustrante. São sonhos desfeitos, famílias desestruturadas, que traz à tona feridas não cicatrizadas do passado, que vai nos fazer passar por situação que nos remete ao abandono, à rejeição e ao medo que a pessoa vivenciou na infância, na repetição da dor.

E por mais doloroso que isso seja, o primeiro passo é aceitar a realidade e se permitir viver essa experiencia, isto é, chorar, ficar triste, encarar o vazio que fica com a saída do outro.

É um vazio pela perda do outro junto com a diminuição da autoestima e o sentimento de que não somos amadas(os), não somos bons o suficiente, que não vou dar conta de pagar as contas sozinha(o). Em muitos casos, a separação do casal vem acompanhada do afastamento de amigos e familiares.

Amigos do casal que optam por estar ao lado de um deles ou se distanciam dos dois. Alguns casais começam a ver no outro, principalmente na mulher, uma ameaça. Na sociedade machista que vivemos, a mulher começa a ser vista como carente e, portanto disponível, e passa a ser assediada por amigos e conhecidos. Esse momento é uma montanha russa de emoções. Esse primeiro momento é angustiante, devastador.

Mas quando nos permitimos entrar na caverna e olhar para a nossa dor, e finalmente chegar à aceitação, começamos a reconstruir nossa vida, quando essa dor de agora funciona como chave para resolver feridas dos passado, com a percepção de que já passamos por isso e superamos.

Estamos aqui, a dor deixou marcas, cicatrizes, mas sobrevivemos. Quando nos permitimos olhar para dentro de nós, resgatando nossa história, priorizando nossas necessidades, apreciando nossa companhia, estabelecendo relação consigo mesmo(a), cultivando a comunicação e o diálogo, lidando com nossas vulnerabilidades e forças, percebemos que precisamos menos do outro para tamponar nossos vazios e mais para viver experiências. Não aceitamos mais ficar sentados no banco de reserva e ficar satisfeitos(as) com migalhas de atenção e carinho.

Encerrar o ciclo de uma relação é um processo, que tem duração diferente para cada pessoa. É doloroso, mas imprescindível. Neste processo, buscar e aceitar ajuda, principalmente de uma profissional preparada para te acompanhar nessa jornada, é importante, pois nesse momento de dor e sofrimento há muito espaço para o autoconhecimento. O maior ato de coragem de um ser humano é pedir ajuda.

Falar de perdas e encerrar ciclos traz muito desconforto e muitos questionamentos a respeito de nossos comportamentos e dos outros. Na próxima semana vamos conversar sobre um problema que atinge proporções epidêmicas no mundo, e como a forma como é abordada e discutida impacta nossa saúde, física e emocional, e prejudica nossa liberdade e longevidade.

Ficou curiosa(o)? Não perca a coluna da próxima segunda-feira (19). E me acompanhe nas redes sociais.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

@psicofatimabaroni

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