Fale com a gente

Urbano Mertz

Viajando pelo Egito I: de Gisé até Luxor

Publicado

em

Ano passado, tive a oportunidade de visitar o Egito com um grupo de 12 pessoas. Certamente não se visita somente o Egito atual, se revisita também um pouco das nossas memórias de aprendizado escolar sobre o antigo Egito. E se faz um mergulho na origem das nossas crenças e nos mitos que simbolizavam as percepções e as descobertas da psique humana no início da nossa civilização: o certo e o errado, a justiça, a verdade, o poder, o tempo, a vida e a morte.

Tivemos a sorte de contar com um guia que não perdeu tempo em nos informar sobre o número de blocos de pedra das pirâmides, de onde vieram e como foram trazidos. A primeira visita foi a Saqqara, que se situa a 15 quilômetros ao Sul das grandes pirâmides, onde foi construída a primeira pirâmide em degraus, há cerca de 5.200 anos atrás. Além desta pirâmide, permanecem as colunas de um grande templo e inúmeras tumbas finamente decoradas, ainda com suas cores vivas, contando a história dos mitos, deuses e obras dos seus donos.

A grande curiosidade de um turista é saber quem fez isso e como conseguiram chegar a este grau de perfeição. Uma preciosa informação do guia foi sobre o “sistema” de ensino do antigo Egito. Os sacerdotes recrutavam periodicamente meninos entre oito e dez anos, e os traziam aos templos para ensinar-lhes a escrita, a pintura, a escultura e a construção. Nos primeiros anos, estes meninos brincavam com areia, pedras, tinturas e outros materiais, e eram cobrados a informar aos sacerdotes as suas descobertas sobre as propriedades destes materiais. Esta certamente foi uma forma muito original de construir ciência e formar grandes artistas, engenheiros e arquitetos!

A deslumbrante vista das grandes pirâmides não nos impacta tanto quanto as obras fantásticas construídas ao longo das margens do rio Nilo. Até porque já vimos milhares de fotos e vídeos sobre as pirâmides, mas é mais raro ver os templos, as colunas e as obras de arte dos santuários de Luxor e de Karnak, o templo de Horus ou os santuários de Kom Ombo, e os belíssimos registros nas paredes e no teto das tumbas dos faraós no Vale dos Reis.

Após visita a Saqqara e às grandes pirâmides em Gisé, fomos de avião até a cidade de Luxor. Luxor (antiga Thebas) foi Capital do império egípcio por cerca de 1.500 anos. A Capital somente foi transferida para Alexandria após a conquista do Egito pelos macedônios e, posteriormente, com a instalação de uma dinastia de faraós de descendência grega (era ptolomaica), entre os anos 304 e 30 antes de Cristo.

Em Luxor a primeira visita foi a Karnak, um imenso santuário que foi construído e ampliado ao longo de 2.000 anos. Turistas somente visitam a parte central, com cerca de 5.000 mil metros quadrados, onde fica o templo dedicado ao Deus do Sol. Adentra-se este recinto através de um corredor ladeado por esfinges com cabeça de carneiro e chega-se ao grande salão com 134 colunas maciças, com até 23 metros de altura e dispostas em 16 fileiras. E, ao lado do santuário, o maior obelisco original da antiga civilização egípcia, e mantido no Egito até hoje, com 29 metros de altura.

Após abandonada e esquecida pela humanidade desde o império romano, somente nos últimos dois séculos Karnak está sendo desenterrada das areias do deserto. E, até hoje, arqueólogos descobrem novas construções e, junto a estas, inscrições que ajudam a compreender cada vez melhor a história do tempo dos faraós.

Na cidade de Luxor também há o monumental santuário de Luxor, com enormes obeliscos e belas estátuas, que se ligavam ao templo de Karnak através de uma avenida de três quilômetros, ladeada por esfinges. Foi construído por faraós famosos, tais como Ramsés e Tutankamon, que reinaram entre 1.400 e 1.200 anos antes de Cristo. No entanto, o que impressiona são as inscrições nas paredes, com instruções sobre o comportamento humano, símbolos que traduziam os mitos e as crenças, todos relacionados à vida diária, à relação com a natureza e com a busca da imortalidade.

Interessante observar que este templo, após abandonado, foi paulatinamente sendo ocupado por diversas religiões, podendo-se observar inscrições e altares de uma igreja cristã, quando a região ainda era dominada pelos romanos e, posteriormente, após a conquista árabe, foi ali também instalada uma mesquita.

Após um dia inteiro vendo deuses esculpidos em pedras, esfinges e estátuas de faraós, cheguei à conclusão de que a humanidade não evoluiu tanto assim nos últimos milênios. Um enorme monolito de pedra em Karnak, com um besouro esculpido sobre o mesmo, teria o poder de dar sorte e satisfazer o desejo das pessoas que o rodeassem por sete vezes. Vi uma imensa fila de turistas andando ao redor da pedra, certamente acreditando no poder da pedra para lhes trazer felicidade e sorte na vida!

(Viagem ao Egito organizada pela MVM Turismo de Curitiba, em outubro de 2022)

Por Urbano Mertz. Ele é engenheiro agrônomo, vice-presidente do Conselho de Desenvolvimento Agropecuário e vice-presidente do Conselho do Meio Ambiente, ambos de Marechal Cândido Rondon

urbanomertz2019@gmail.com

Copyright © 2017 O Presente