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Urbano Mertz

Viajando pelo Egito II: o Vale dos Reis

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A cidade de Luxor, que fica a 700 quilômetros ao Sul de Cairo, foi Capital do antigo Egito por mais de 1.500 anos. A região é um museu a céu aberto. Além dos grandes santuários de Karnak e Luxor, tem o Vale dos Reis, o Vale das Rainhas, os colossos de Mênnon, templos mortuários e inúmeras outras edificações que sobreviveram ao longo dos milênios. 

Um dos locais mais visitados em Luxor é o Vale dos Reis, que fica na margem Oeste do rio Nilo. Podemos entender o Vale dos Reis como uma necrópole de faraós e nobres egípcios, que tinham as suas tumbas escavadas profundamente nas rochas das montanhas. Dizem que os faraós abandonaram as pirâmides como local de sua passagem para o Além porque estes locais eram muito visados por saqueadores, que cobiçavam as riquezas em ouro e prata que adornavam as múmias ou eram depositados em seus jazigos.

Quando os faraós passaram a ser enterrados em tumbas escavadas profundamente nas montanhas, com poços, armadilhas e barreiras de pedra, supostamente os seus corpos mumificados não seriam mais profanadas e os seus tesouros e demais pertences estariam a salvo de saqueadores, garantindo-lhes, assim, os meios necessários para a passagem à vida no Além.

No entanto, das riquezas levadas para os jazigos reais pouco restou. Os saques já se deram na antiguidade e, mais recentemente, sarcófagos hermeticamente fechados e esculpidos em maciços blocos de granito foram dinamitados para que os saqueadores pudessem se apoderar dos tesouros. Mas ficaram para a posteridade as magníficas obras de arte, pinturas e hieróglifos ao longo das galerias de acesso às câmaras com os sarcófagos.

Muito do que sabemos hoje sobre a história do antigo Egito está registrado nas paredes e tetos destas galerias.

Também sobraram rolos de papiro, onde eram descritas as obras, as qualidades morais e as boas ações do governante em favor do povo, para que os deuses pudessem avaliá-las e colocar na balança o seu merecimento para a vida no Além.

No entanto, por incrível que pareça, nem tudo foi saqueado. Em 2022 fez 100 anos da descoberta da tumba de Tutankamon, com sua máscara de ouro e com mais de 5.000 itens de pertences e tesouros reais. Tendo morrido muito jovem, a tumba deste faraó é relativamente pequena, e a câmara mortuária ainda conserva a sua múmia. A máscara e parte dos itens mais valiosos estão expostos em uma sala exclusiva no museu do Cairo.

Próximo ao Vale dos Reis também se encontra o templo mortuário de Hatshepsut, uma enorme construção com três níveis de terraços, incrustado numa montanha. Este templo foi construído pela primeira mulher faraó do antigo Egito, que reinou por 22 anos no século 15 antes de Cristo. No entanto, como a maioria dos registros sobre o seu reinado foram misteriosamente apagados, só recentemente descobriu-se mais detalhes sobre a sua história.

Para o povo egípcio, a felicidade do faraó trazia sorte e paz para todo o reino, com prosperidade e boa produção de alimentos. Desta forma, o faraó era considerado uma encarnação divina, um filho do Deus do Sol.

Os faraós realçavam a sua relação com os deuses através de monumentos, estátuas e pinturas, que era uma maneira de se comunicar com o povo e unir todos em torno da religião e das crenças oficiais. Assim, os faraós exerciam, junto com os sacerdotes, um poder absoluto, com um forte traço teocrático, tal como muitos governantes o fazem até hoje.

Ao longo da história da civilização egípcia, as mais de 30 dinastias sempre perseguiram um grande objetivo: manter unido o alto e o baixo Egito. Sobre a cabeça dos faraós, uma coroa dupla simbolizava esta união, sendo o alto Egito representado pelas terras férteis às margens rio Nilo acima de Luxor até a fronteira com Sudão, e o baixo Egito as terras banhadas pelo majestoso rio, que vai de Luxor até o delta no mar Mediterrâneo.

Manter unido o país, produzir alimentos e matérias primas ao longo das margens do rio Nilo para abastecer o reino era papel de milhares de agricultores, sendo as terras todas de propriedade dos faraós. Na estação das cheias, quando as chuvas torrenciais nas nascentes tropicais do rio inundavam toda a planície, o povo era chamado a trabalhar nas construções de pirâmides, tumbas e santuários, e o faziam sob a crença de que assim também mereceriam a misericórdia dos deuses e uma vida no Além.

E assim foi no tempo dos faraós: uma abundância de alimentos e poucos inimigos externos permitiram que a civilização egípcia evoluísse em cultura, arte e ciência, e sobrevivesse por mais de 3 mil anos!

(Viagem ao Egito organizada pela MVM Turismo de Curitiba, em outubro de 2022)

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Por Urbano Mertz. Ele é engenheiro agrônomo, vice-presidente do Conselho de Desenvolvimento Agropecuário e vice-presidente do Conselho do Meio Ambiente, ambos de Marechal Cândido Rondon

urbanomertz2019@gmail.com

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