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Fátima Baroni Tonezer

Pilares da boa saúde, bem-estar e felicidade

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No último artigo conversamos sobre a importância de cuidar da alimentação e manter nosso corpo ágil e flexível através do movimento. Hoje vamos falar de mais um pilar da boa saúde, física e mental. A doutora Elizabeth Blackburn, prêmio Nobel de 2009, descobriu a importância dos telômeros na nossa vida. Nós nascemos com 20 mil genes, que são compostos por cromossomos, que têm telômeros (as “perninhas” do DNA). E que enquanto crescemos e envelhecemos esses telômeros vão sofrer um encurtamento. Segundo ela, é através do meio ambiente e das nossas ações que esse encurtamento vai ocorrendo. Quanto maior o nível de estresse, mais acelerado esse encurtamento acontece.

Como mostrei no último artigo, manter-se ativo, movimentando-se, praticando atividades e/ou exercícios físicos, cuidando do sono, com alimentação mais natural e caseira, você vai manter seu corpo e mente saudáveis, mas falta um ponto ainda para completar a equação do estilo de vida saudável, para enfrentar os inimigos da saúde que são: glicose alta, inflamação, radicais livres, capitaneados pelo estresse oxidativo.

À medida que envelhecemos, nosso músculo vai perdendo a elasticidade, vai se tornando flácido, e isso é chamado de sarcopenia (ou Alzheimer do músculo). A musculação é fundamental nesse ponto. Para o cérebro, a alimentação, saladas e fermentados. E então entra o próximo passo ou pilar.

OS PENSAMENTOS INFLUENCIAM NOSSAS AÇÕES E LONGEVIDADE

Vivemos numa correria, sob pressão, tensão, excesso de trabalho (que não significa necessariamente produtividade). A doutora Blackburn prova que nossas células “escutam” nossos pensamentos. Foi ela que comprovou que a ruminação, devaneio, hostilidade e pessimismo destroem nossas células. Por ruminação entendemos ter pensamentos negativos e repetitivos sobre o presente ou o passado. “Por baixo dos pensamentos automáticos, há sempre suposições inadequadas”, diz Robert Leahy, psicólogo e escritor estadunidense. Coisas do tipo: “Nunca vou conseguir ser feliz fazendo as coisas por conta própria”.

Já o devaneio é um estado de divagação do ser humano, quando se deixa levar pela imaginação, imagens, sonhos ou pensamentos profundos; ignorando o contato com a realidade ou o ambiente que o rodeia. Alguns psicólogos acreditam que devaneio seria o mesmo que “sonhar acordado”.

Outro pensamento intrusivo, a hostilidade é a particularidade de quem é hostil, que age com agressividade e oposição perante alguma situação ou comportamento. Agir com hostilidade é ter uma atitude arrogante e rude em relação a algo ou alguém, opondo-se totalmente ao objeto de desagrado. E, por último, pessoas pessimistas tendem a enxergar sempre o aspecto negativo de cada situação, e essa condição permeia seu pensamento, seus sentimentos, a forma como interpreta as coisas e seu modo de agir.

Segundo a doutora Blackburn, esses pensamentos interferem nas atitudes e comportamentos, diminuindo o comprimento dos telômeros e levando a doenças e menor expectativa de vida.

GENÉTICA OU AMBIENTE: NÃO É SOBRE OS GENES QUE VOCE TEM

O conceito de estilo de vida inclui diferentes fatores, como dieta, comportamento, estresse, atividades físicas, hábitos de trabalho e de consumo, entre outros. O contexto genético e os fatores ambientais estão diretamente relacionados com o estilo de vida, e os processos epigenéticos têm sido cada vez mais relacionados com diversos fenômenos.

A palavra epigenética é bem antiga; Aristóteles já acreditava que todas as nossas características têm origem em um processo denominado “epigênese”. E no início dos anos 40 o biólogo Conrad Waddington passou a utilizar a palavra epigenética para se referir à maneira como os genes interagem com o meio ambiente na construção dos organismos.

Hoje muitos pesquisadores trabalham para descontruir o poder da genética. Diferente do que muitos acreditam, o DNA que contém a informação dos nossos genes não é capaz de ações independentes. Os genes são, de certa forma, induzidos a se expressar conforme o contexto ambiental (o que inclui diversos fatores, inclusive outros genes). Isso significa que podemos “interferir” em nossa genética ao mudar nosso estilo de vida, incluindo hábitos de vida mais saudáveis.

EU TENHO ESCOLHA SOBRE MINHA SAÚDE!

Desacelerar é a receita. É se incluir na própria agenda. Começamos cuidando do nosso sono. É a primeira coisa importante do pensamento. E as três horas mais importantes da noite são das 19 às 21 horas, porque após o jantar começa o processo de desconexão, desligar as telas, diminuir a intensidade das luzes.  Mas esse pilar é mais que sono. Passa por propósito de vida. Aqui podemos emprestar a palavra “Ikigai”, um termo japonês que descreve a razão por que alguém levanta da cama todos os dias, ou seja, sua motivação para viver. É uma palavra bastante conhecida e tem um significado dinâmico, que envolve uma procura constante por atividades que provocam satisfação individual e coletiva.

Temos ainda os pensamentos tóxicos, aqueles que a doutora Blackburn comprovou que afetam nossas células. E aqui podemos praticar atividades mente-corpo: a meditação, a respiração consciente, que é um dos melhores antídotos contra os pensamentos intrusivos. Podemos praticar a meditação, como a ensinada no “mindfulness”, ou ioga ou treinar trazer nossa consciência para o momento presente, prestar atenção naquilo que está ali, no momento.

Evitar o devaneio, seja do passado, seja do futuro, isto é, depressão ou ansiedade. É o momento que estamos vivendo, do jeito que é possível ali. Quando conseguimos viver o presente, nossas células reconhecem e ficam felizes. E para cuidar dos nossos pensamentos intrusivos temos os relacionamentos, afetivos e sociais  (falamos deles aqui), cultivar relações saudáveis, treinar ser mais escutador do que falador.

Uma forma simples de praticar isso é sair das teorias, isto é, mais do que ler muitos livros, ouvir muitos podcast, é colocar em ação aquilo que faz sentido para você. Por isso falamos de estilo de vida e não de mudança de hábitos. Por exemplo, se você quer ter noites de sono com qualidade, mas você tem TV no quarto, fica difícil mudar o hábito. A tentação vai estar ali, espreitando.

Quer dormir bem? Comece tirando a tv do quarto e deixando na sala. No lugar de ler no Kindle ou no celular, opte por um  livro de papel. Comece a escovar os dentes logo após a refeição e não antes de deitar-se. Hálito fresco tira a vontade de comer.

Quer comer melhor? Faça uma lista de compras consciente e mantenha-se nela enquanto estiver no mercado. Cozinhe mais. Cozinhar é um cuidado, uma prova de amor-próprio e com a família. Se não mudar o meio ambiente, não mudamos nossos hábitos. 

Esses são os pilares da boa saúde. Junto a esses aspectos temos outro pilar ou resgate necessário à mudança de estilo. Na próxima semana vamos conversar sobre ele. Anota aí e acompanhe.

Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

@psicofatimabaroni

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