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Fátima Baroni Tonezer

Sono: o que você faz quando não está fazendo nada?

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Vivemos um tempo com tantas opções, oportunidades e demandas que as 24 horas do dia estão ficando pequenas para comportar tantas coisas. Ficamos cada vez mais ligados nas redes sociais, nas telas, na “necessidade” de estar atualizadas(os). E com isso, sobra pouco tempo para dormir. Enquanto alguns dizem que dormir é perda de tempo, outros dizem que dormir uma noite toda é ostentação, já que poucos conseguem.

PERDA DE TEMPO OU OSTENTAÇÃO! QUEM ESTÁ CERTO?

O ser humano, e todos os animais, dormem. O sono é fundamental, e isso percebemos bem rápido. Uma noite mal dormida, ou duas ou três… levam a comportamentos impulsivos, com menor tempo de reação, menor percepção do que ocorre ao redor, diminuição nas respostas cognitivas… Atravessar a noite estudando para a prova não é uma boa ideia. Depois de duas noites mal dormidas, o sistema imunológico começa a se desregular. Quatro ou cinco noites sem dormir podem, inclusive, provocar alucinações. E estamos só começando a falar dos efeitos fisiológicos de não dormir.

MAS, QUAL É A FUNÇÃO DO SONO?

Se pensarmos que lá no início da nossa evolução como Homo Sapiens dormir era extremamente perigoso para a nossa sobrevivência, já que ao adormecer ficamos mais suscetíveis aos predadores, fica a pergunta: por que nós dormimos? Qual é a utilidade do sono para os seres, humanos ou não?

Desde o início da vida na Terra existem períodos bem-marcados de claro e escuro – dia e noite foi a nomenclatura escolhida. Esses dois ciclos foram responsáveis pelo surgimento do ciclo circadiano, isto é, nosso relógio biológico que regula o corpo durante os períodos diurno e noturno. O sono entra aí nesse ciclo da noite e é responsável por várias funções do cérebro, entre elas limpá-los das toxinas, recuperar metabolitos que foram desprendidos durante a vigília, regular hormônios do corpo e consolidar memórias, por exemplo.

Na sociedade atual vivemos uma época de privação de sono, já que essa parte do dia originalmente dedicada a deitar na cama e dormir vem sendo cada vez mais negligenciada ou invadida, seja por trabalho, estudo, uso de substâncias como cafeína, por exemplo, seja pelo maior tempo dedicado às telas e às “informações” e “diversão”.

Durante a evolução nosso corpo foi condicionado a permanecer no estado de vigília durante o dia e a repousar à noite. Nossos antepassados tinham poucas opções do que fazer, seja trabalho ou entretenimento, à noite, já que o escuro desfavorecia o deslocamento ou atividades que não fossem o descanso e o repouso na segurança do lar.

Com a revolução industrial e mais recentemente tecnológica não precisamos nem sair de casa para viver – trabalho, estudos, comida, lazer… –, é só teclar o celular e acontece, e dormir virou sinônimo de perda de tempo, a ponto de alguns dizerem que sucesso está diretamente ligado ao que você faz enquanto os outros dormem.

Há centenas de nós, humanos, que tentam dormir, mas sofrem de algum grau de dificuldade para dormir ou insônia. Há ainda inúmeros que trabalham à noite, que por mais que durmam oito horas depois do trabalho, ainda assim se ressentem da luta constante contra o próprio relógio biológico do sono.

Há consenso hoje quanto à quantidade de horas de sono necessária para uma vida saudável: adolescentes precisam em média de nove horas de sono, enquanto adultos de oito horas. A média varia de sete a nove horas de sono.

MAS DORMIR É MAIS QUE TER OITO HORAS DE SONO. É PRECISO TER QUALIDADE E REGULARIDADE

Temos inúmeras pesquisas que comprovam hoje que, além de em média oito horas de sono, precisamos ter qualidade no sono. Para entender isso primeiro precisamos falar sobre as fases ou estágios do sono.

Uma noite de sono é composta de cinco estágios de sono, formada por dois tipos de sono. Vamos lá: depois de deitar-se, com sono, luzes apagadas e alguns ajustes na posição do corpo, você vai começar a sair das margens da consciência da vigília para cair no sono. Primeiro você “nadará” nas águas rasas do sono NREM (sigla do inglês para não-rápidos movimentos dos olhos) leve; são os estágios 1 e 2. Daí em diante você entrará nas águas mais profundas dos estágios 3 e 4, o sono profundo. A função essencial do sono NREM profundo, que predomina no início da noite, é depurar e remover conexões neurais desnecessárias. Em contrapartida, o estágio onírico – estágio 5 – sono REM (Movimentos Rápidos dos Olhos), que prevalece mais tarde na noite, atua no fortalecimento dessas conexões. Estudos dessa combinação de sono nos dão uma ideia parcial de por que os dois tipos de sono se alternam e por que esses ciclos são dominados principalmente pelo sono NREM na primeira parte da noite, com o sono REM reinando absoluto na segunda metade da noite.

Nesse perfil de sono em que o NREM predomina no início da noite, seguido por um domínio do REM mais tarde, próximo da manhã, reside o perigo do qual a maior parte de nós não tem noção. Isto porque ao deitar-se mais tarde, por exemplo, a partir da meia-noite, e levantar às 6 horas da manhã, você terá perdido uma parte importante do sono REM, já que o cérebro requer a maior parte do deste tipo de sono na última parte da noite, ou seja, nas primeiras horas da manhã. O raciocínio vale no inverso também: se você levantar às 8 horas, mas foi deitar-se às duas da manhã, terá perdido uma quantidade significativa de sono NREM profundo. Isto provoca um desequilíbrio, já que ambas as fases têm funções críticas, e distintas, no cérebro e no corpo, que abrem caminho para inúmeras enfermidades físicas e mentais.

Fácil entender quando sabemos que é no sono mais profundo que ocorre todo o processo de recuperação fisiológica. Enquanto o sono REM ou sono paradoxal é onde sonhamos, superimportante para o aprendizado específico e a calibração do circuito de relações emocionais. Uma das coisas que acontecem quando não passamos pelo estágio cinco é que os circuitos envolvidos com as respostas emocionais ficam hiperativas, e são estes os circuitos envolvidos com o estresse e a ansiedade, aumento da frequência cardíaca etc.

Inúmeros estudos demonstram a importância do sono REM para a nossa saúde física e mental, já que é a fase do sono restaurador, marcado pelos movimentos rápidos do olhos, pelos sonhos e por intensa atividade cerebral, semelhante à atividade na vigília.

Até aqui começamos a entender a importância do sono em nossa vida, e como a sua ausência ou descuido podem comprometer nossa saúde. No próximo artigo, vou te mostrar as consequências de dormir mal ou pouco e abordar cuidados para aumentar nossa saúde e produtividade. Fica comigo na próxima segunda-feira, dia 22. Nos vemos lá. E se tiver dúvidas, perguntas, comentários, será um prazer ajudá-la(o).

Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

@psicofatimabaroni

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