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Fátima Baroni Tonezer

Autoestima: a aceitação no amor-próprio

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Autoestima é o conceito que cada um tem si mesmo. Pode ser baixa, alta ou equilibrada (tem artigo aqui no jornal). E para ser construída passa por desenvolver e alimentar várias faces em si mesmo. A autoaceitação é uma delas. A questão é como desenvolver a aceitação e consequentemente a autoaceitação? Primeiro vamos entender o que significa de fato aceitar.

Aceitar, na Psicologia, consiste em acolher o outro da forma como ele se apresenta, com seus defeitos, qualidades, características de personalidade que as vezes beira a excentricidade, sem tentativas de modificá-lo para que satisfaça expectativas e se ajuste aos caprichos do outro. Percebemos que é um conceito pesado, denso. E antes de me aprofundar na vertente que escolhi abordar, quero deixar já uma ressalva: aceitar não significa não buscar ajuda para resolver um problema, como por exemplo o causado por um transtorno mental ou nos conformar em conviver com o problema, do tipo “sempre foi assim, não tem o que fazer”. Isso é conformismo. Aceitar é entender que isso está posto, aconteceu. E agora temos que lidar com ele.

ACEITA QUE DÓI MENOS

Frase eternizada numa famosa música de “sofrencia” que ao mesmo tempo que diz tudo não diz nada. Explico-me: a aceitação é um processo ativo, e o primeiro passo é entender e diferenciar o que pode ser mudado do que não pode mudar. Coisas que são extrínsecas, fatores ligados a eventos externos, que, portanto, não dependem da vontade ou expectativas própria, é perda de tempo questionar e buscar a resposta “Porque?”, “Porque aconteceu comigo?”. Não depende de você e não aconteceu com o único proposito de magoar e ofender. Aconteceu, está acontecido. Ficar se questionando é estar estacionado(a) na rigidez e expectativas fantasiosas de controle e negação.

A aceitação pode vista como um processo ativo de não julgamento e não esquiva (negação/fuga) de experiencias ou sentimentos de qualquer tipo. Aceitar é entender que experiencias desagradáveis também fazem parte da vida, e a busca incessante de meios de controlar esses desconfortos só fazem aumentar o problema. Para exemplificar: você já tentou mergulhar um balão cheio de gás hélio numa banheira transbordando de água e forçou para que ele fique completamente embaixo d’água?  Até consegue, mas exige energia e demanda força para mantê-lo mergulhado e as mãos ocupadas em segurar o balão não estarão disponíveis para outras ações, os olhos e a atenção ali não permitirão perceber o que acontece ao redor. E ao menor descuido, o balão sobe a superfície.

A EVITAÇÃO COMO ESTRATÉGIA   

Aceitação é o oposto da evitação e da situação desejável (expectativas). Quanto mais a disponibilidade para entrar em contato com os eventos internos da maneira como surgiram, sem tentar suprimir ou negar ou fugir, mais facilitada a percepção e a experiencia do desconforto e a possibilidade de descobrir novas funções com o desenvolvimento da observação do evento sem julgamento.

Isto significa que lutar com os sintomas ou eventos querendo a todo custo ter controle, contribui para a manutenção do problema, ao passo que a aceitação pode abrir caminho para quebrar o ciclo. De que ciclo falamos? O da repetição.

RIGIDEZ NO COMPORTAMENTO QUE LEVA A REPETIÇÃO

Há uma frase atribuída a Einstein que diz que “é insanidade fazer as mesmas coisas esperando resultados diferentes”. O autor real da frase é um mistério, mas seu conceito é verdadeiro. Quando ficamos estacionados em comportamentos passados, olhando para a repetição das situações, caímos na rigidez comportamental, um olhar cheio de ressentimentos e julgamentos, que busca a resposta certa para a pergunta errada. Na inflexibilidade psicológica, costumamos ter comportamentos regidos por regras fixas, que não permitem a leitura do momento, forçando a resposta pronta para qualquer situação. Isto significa que enquanto estamos na inflexibilidade psicológica vamos agir da mesma forma em situações diferentes. E a “loucura”  é que ficamos “surpresos” porque não deu certo

Como resolver esse impasse? Para desenvolver a flexibilidade psicológica o caminho passa por cultivar a habilidade de manter-se no presente. Com o objetivo da aceitação, escolha e ação pertinentes ao momento atual para alcançar os valores pessoais essenciais. Ou seja, experimentar as experiencias tal como são, enquanto fenômenos que ocorrem ao largo da vontade pessoal, abandonando a luta pelo controle de eventos, promovendo o engajamento em comportamentos para uma vida plena, entendida aqui como compatível com valores e princípios internos, de cada um.

Apesar de ser um processo lento e difícil, a aceitação contribui para nosso crescimento e desenvolvimento de competências emocionais e intelectuais. E para finalizar, vou deixar uma frase do psicólogo estadunidense Carl Rogers: “O paradoxo curioso é que quando eu me aceito como eu sou, então eu mudo”. A aceitação é o primeiro passo em direção à mudança. Essa frase pode ser aplicada em qualquer impasse encontrado nas nossas vidas.

Pode parecer simples, mas cuidar da própria saúde e reconhecer seus limites, aceitar que não teremos controle sobre todos os eventos, que mais coisas desagradáveis poderão acontecer, e quanto mais presente e disponível para o momento estiver, mais fácil torna-se encontrar estratégias efetivas e sustentáveis, mais agradável pode ser viver. Pode parecer simples, mas não significa que seja fácil. Nos vemos por aqui na próxima semana. Se precisar de ajuda, peça. Este é o maior ato de coragem que um ser humano pode fazer.

Até a próxima…

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

@psicofatimabaroni

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