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Fátima Baroni Tonezer

Procrastinação não é preguiça!

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A procrastinação sempre foi associada à preguiça, à falta de vontade ou à dificuldade em gerenciar o tempo. Bem, não é bem assim. Preguiça é uma falta de vontade ou motivação para realizar atividades diárias. A preguiça não gera culpa ou desconforto.

Já a procrastinação se define por colocar determinadas tarefas no lugar de outras, isto é, é o adiamento voluntário de uma tarefa, mesmo com consequências negativas.

Geralmente procrastinamos tarefas ligadas ao estudo e ao trabalho, daí a confusão com preguiça.

PROCRASTINAÇÃO NÃO É PREGUIÇA, É UM PROBLEMA EMOCIONAL!

É isso, a pessoa não quer realizar aquela tarefa, não por ser preguiçosa, mas por ter dificuldade em regular as emoções, que são, em geral, negativas e desagradáveis. Desse ponto de vista, o da regulação emocional ou autorregulação, quando uma tarefa causa mal humor, nós tentamos “consertar” o humor ao invés de realizar a tarefa. Logo, não se trata de preguiça, é mais uma tentativa de evitar o mal-estar causado por essa atividade.

Por regulação emocional entendemos a habilidade de gerenciar e lidar com as emoções e suas expressões. Não podemos controlar o que sentimos, mas podemos escolher o que vamos fazer com as emoções. Exemplos bem comuns: ao sentir tristeza, vem a vontade de chorar. Ao sentir raiva, a vontade de gritar. Apesar de sabermos que não podemos dar vazão às emoções com as opções citadas em todos os momentos, pois não é socialmente aceitável. Então somos ensinados a reprimir as reações naturais e a nos expressar de outras formas, nem sempre saudáveis.  Estar triste e buscar um amigo para desabafar é saudável. Já comer para “esquecer e enterrar as mágoas”, não. Além de não resolver, causa prejuízos a médio e longo prazo nas relações e na saúde. 

COMO LIDAR COM AS EMOÇÕES E NÃO PROCRASTINAR?

Algumas tarefas são chatas de fazer. As nossas obrigações diárias se incluem nesse rol, por isso são chamadas de obrigações. Logo, se ler aquele capítulo para a prova é chato, assistir um episódio da minha série favorita me alegra. O problema é que isso acaba criando um círculo vicioso. A série ou o feed do Instagram alivia e dá prazer. Mas pensar na tarefa causa mal-estar e a procrastinação se instala nessa ciranda.

SAÚDE MENTAL E PROCRASTINAÇÃO 

Antes de correr atrás de coisas como dez dicas para acabar com a procrastinação, é importante perceber se não há nenhum transtorno ou sintoma prejudicando sua ação. Isto porque a procrastinação pode aparecer como sintoma em alguns transtornos.

Para uma pessoa com depressão, qualquer tarefa se torna fonte de desprazer, até aquelas consideradas básicas, como os cuidados corporais. Já para pessoas com transtorno de ansiedade, o pensar na atividade aumenta o desconforto. Pensar na tarefa ocupa os pensamentos criando sentimentos de mal-estar, aumentando a ansiedade, com o receio de não dar conta, errar ou fracassar. A procrastinação, por ter consequências a longo prazo, acaba gerando estresse. O medo de falhar impede a pessoa de agir. Não agir gera estresse e desconforto.

Como vamos acabar em o círculo vicioso? Se o que colocamos de lado são as atividades que geram alguma emoção negativa, as chatas, difíceis, que despertam o medo de fracassar ou não gerar resultado (prazer) imediato, como podemos agir para evitar o estresse e as consequências negativas que não as realizar certamente trará?

E só para citar algumas dessas consequências, temos: sentimento de culpa, diminuição da qualidade de vida, cansaço físico, frustração, preocupação, vergonha, prejuízos financeiros.

CINCO ATITUDES PARA PARAR A PROCRASTINAÇÃO

Sim, fiz um apanhado de dicas e atitudes para evitar a procrastinação. O primeiro passo é ter uma lista de tarefas. Escreva tudo o que você precisa fazer no dia. Visualizar as tarefas auxilia no que precisa fazer. E  completar a atividade e riscá-la provoca uma sensação ótima de dever cumprido. Você pode usar uma folha avulsa, o aplicativo do seu celular. O importante é escrever uma lista de atividades diárias.

Em seguida, como segundo passo, divida as tarefas em micro tarefas. Quanto maior ou mais complexa a tarefa, maior a probabilidade de procrastinar. Dividir sua lista de tarefas em micro tarefas ajuda a se colocar em ação. Quanto menor, melhor. É um passo de cada vez na direção do todo. Quanto menor e mais simples, mais executável a atividade.

Ter uma lista e dividir as tarefas em micro passos, porém, não funcionará se o ambiente não for adequado. Logo o terceiro passo é ambiente adequado. É muito difícil se concentrar num ambiente com muitos estímulos, que facilmente distraem a atenção. Por isso, desligue notificações de mensagens, deixe o celular longe e no silencioso, crie um ambiente apropriado para a tarefa que precisa ser realizada. E deixe tudo o que faz parte da atividade próximo, fácil de ser encontrado, ao alcance da mão.

O quarto passo é a definição de prazos e metas. Defina as metas de curto, médio e longo prazo. Os prazos precisam ser possíveis de alcançar. Sem prazos definidos, não há o senso de urgência. Já um prazo muito curto gera ansiedade. Trabalhar sempre sob pressão não é saudável.

E o quinto passo são as pequenas recompensas. Quando temos uma lista de tarefas com micro tarefas e prazos, fica mais fácil executar. E para melhorar esse processo, programe pequenos prêmios para cada tarefa cumprida. Por exemplo: cinco minutos de descanso quando concluir a tarefa; um copo de água olhando a natureza ou qualquer coisa que lhe dê bem-estar. Ensine seu cérebro a iniciar e terminar uma tarefa, esperando até a conclusão para a recompensa chegar.

Uma dica de ouro aqui é: ao fazer sua lista de tarefas, dê preferência àquelas mais importantes ou urgentes, com prazos menores ou consequências mais negativas. Começar pela mais fácil ou prazerosa é ponto para a sabotagem.

Para conseguir lidar com a procrastinação, lembre-se da regulação emocional lá do início do texto. Para aprender a não procrastinar é importante saber identificar o que está sentindo, a reconhecer e se relacionar com seus sentimentos. Sem perceber e identificar suas emoções, não há como lidar com elas. E a negação gera procrastinação, entre outros problemas.

Se precisar de ajuda para lidar com a procrastinação, procure uma psicóloga ou psiquiatra. Lembre-se que pode não ser preguiça.

Nos encontramos na próxima semana para conversar sobre um assunto muito presente no setting terapêutico e nas redes sociais, que incomoda muita gente e tem diversos motivos como fatores predisponentes, que gera discursos acalorados e poucas  mudanças reais.

Até lá.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

@psicofatimabaroni

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