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Fátima Baroni Tonezer

Uma em cada 100 mortes no mundo ocorre por suicídio, revelam estatísticas da OMS 2023!

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Desde o último artigo conversamos sobre suicídio, com o objetivo de desconstruir preconceitos e estigmas associados ao assunto. Isto porque infelizmente a estatística sobre suicídios vem aumentando em algumas partes do mundo, e incluindo pessoas de idades cada vez mais precoces.

Suicídios e tentativas de suicídio, automutilação, têm um efeito dominó que afeta não apenas os indivíduos, mas também as famílias, comunidades e sociedades. E são fatores de risco associados ao suicídio, perda de emprego ou financeira, trauma ou abuso, transtornos mentais e de uso de substâncias e barreiras ao acesso a cuidados de saúde. Sempre lembrando que não é a ocorrência de um desses fatores a única causa e, sim, uma somatória.

No entanto, o suicídio pode ser evitado. As principais medidas de prevenção ao suicídio baseadas em evidências incluem a restrição do acesso a meios letais, políticas de saúde mental e redução do álcool e abuso de substâncias e a cobertura responsável da mídia sobre o suicídio. O estigma social e a falta de consciência continuam a ser as principais barreiras para a procura de ajuda, destacando a necessidade de formação em saúde mental e campanhas para acabar com o estigma.

De acordo com matéria da ONU NEWS, todos os anos, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV, malária, câncer de mama, guerras e homicídios. Segundo Tedros Ghebreyesus (diretor-geral da OMS), “a atenção à prevenção do suicídio é ainda mais importante agora, depois de muitos meses convivendo com a pandemia e muitos dos fatores de risco, como perda de emprego, estresse financeiro e isolamento social, ainda muito presentes”.

SEGUNDO A OMS, A CADA 40 SEGUNDOS UMA PESSOA MORRE POR SUICÍDIO NO MUNDO. SUICÍDIO É EVITÁVEL!

Isto nos traz muitos pontos para reflexão. A necessidade de políticas públicas para gerir a situação; ações por parte de jornalistas e profissionais que divulgam conhecimento e informações em mídias de circulação nacional ou regional, incluindo redes sociais; ações efetivas de formação para profissionais, tanto da saúde, como da educação e outras redes de apoio. E como profissional de saúde mental, quero conversar um pouco sobre estes aspectos, ou seja, a interferência de transtornos mentais na ideação suicida. Não pretendo esgotar o assunto, somente alertar. Com o objetivo de ajudar a reduzir o estigma que profissionais de saúde, educação e população em geral têm sobre doenças mentais.

Quero falar sobre a Psicofobia, termo cunhado pelo Dr. Antonio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). A ideia por trás desse nome é trabalhar o preconceito que se tem com a doença e os doentes mentais. Ser diagnosticado com um transtorno mental, estar em tratamento com psiquiatra ou psicóloga, não reduz ninguém a “ser doido”, maluco, perigoso. Até porque a incidência na população mundial existe. O suicídio sempre é precedido de pensamentos, sentimentos e comportamentos, palavras. Não é algo que acontece “do nada”. Quantas vezes uma pessoa está em sofrimento e é dito, pelos outros ou por si mesma, que está reclamando de “barriga cheia”, que tem tudo, não sabe o que é passar por isso ou aquilo, é falta de fé, de ocupação, é “mimimi” para chamar a atenção. NÃO É!

Para resolver isso é preciso escutar. A fina arte da ESCUTATÓRIA. Estamos acostumados a ouvir e enquanto o outro fala, já estamos pensando na resposta, sem escutar o conjunto. Escutatória é feita com as orelhas, com os olhos, com o corpo de quem escuta. É colocar a atenção no que está sendo falado, e como o corpo está reagindo, as micro fisionomias, a tom da voz de quem fala. E como isso ressoa no corpo de quem escuta.

NOSSA SOCIEDADE SOFRE DE PSICOFOBIA!

Se por um lado repetimos palavras esvaziadas de conceito, já que para tudo “sou ansioso”, “estou depre” etc., por outro lado, não queremos reconhecer os sinais. Pois perceber esses sinais, no outro e em mim, vai me colocar na responsabilidade de tomar uma ação, buscar ajuda. Vivemos tempos bicudos. Ao mesmo tempo que buscamos qualquer panaceia que resolva a dor e afaste o sofrimento, sem que haja a necessidade efetiva de qualquer ação por parte da pessoa que sofre, há o estigma e o medo de ir ao psiquiatra e tomar remédios, que de fato vai ajudar, ou ir a psicóloga e mexer nas feridas. Investir tempo e energia para efetivamente resolver o problema.  

Temos um número alarmante de transtornos mentais não diagnosticados e não tratados. O Relatório Mundial de Saúde Mental da OMS, publicado em junho de 2022, mostrou que de um bilhão de pessoas no mundo que viviam com algum transtorno mental em 2019, 15% eram adultos em idade ativa e 14% adolescentes. 

São pessoas que por desconhecimento ou vergonha não procuram ajuda, ou pedem ajuda para um profissional que não é da área e acaba tomando um remédio que na maioria das vezes não está adequado a sua situação. Temos pessoas com Transtornos de Humor Bipolar (THB), Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), depressão, entre outros, andando aos milhares na rua. E muitos sem diagnósticos ou tratamento; ou subdiagnosticados e tratados de forma inadequada.

O perigo de uma pessoa com um desses transtornos é usar substâncias, drogas ilícitas ou as substâncias da moda, numa terapia alternativa, que prolifera aos montes nas redes sociais. Um exemplo: um remédio para emagrecer, que a vizinha usou e até emagreceu, comprado na internet como produto natural, que resolve o excesso de peso sem esforço, e que ao consumir abre um quadro de bipolaridade, depressão, quiçá uma psicose ou esquizofrenia. É preciso cuidado. Não quero “causar”, como se diz na gíria, criar pânico. Mas é preciso um olhar cuidadoso, entender a minha genética, o contexto (ambiente) onde estou inserido(a). E isso não é conseguido somente com o teste genético, ainda inacessível a maioria de nós brasileiros. Podemos observar e conhecer nossa história de família, aquele tio irritadiço, sistemático, isolado, alcoólatra… enfim pessoas que não foram diagnosticadas ou que já têm diagnóstico, e compreender que se houve ou há pessoas assim na família, não é o caso de, por vergonha, esconder. Mas entender que há a possibilidade genética de abrir um quadro de transtorno mental. O uso recreativo de substâncias pode levar uma pessoa à dependência química ou a um quadro de transtorno, por exemplo a bipolaridade, ou presença dos dois juntos. E na sequência, pensamentos suicidas é uma possibilidade muito real.

No próximo artigo vamos falar um pouco mais sobre esse tema, olhando para o que está por trás dele, os transtornos afetivos, entre outras causas. Fica comigo, continua me acompanhando, aqui no jornal e nas minhas redes. E se quiser trocar uma ideia sobre esse ou qualquer outro tema, me chame.

Até a próxima,

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

@psicofatimabaroni

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