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Fátima Baroni Tonezer

Cuidar de si para cuidar dos outros: a autoestima saudável

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Autoestima é a visão que temos de nós mesmos(as). E como tem influência em várias áreas de nossa vida, nas escolhas e relacionamentos. Vale acrescentar aqui que autoestima não é algo definido geneticamente, não é herdada. Ela vai sendo construída, aprendida conforme vamos passando por situações e experiencias, de sucesso e fracasso. Enquanto estamos crescendo e vivendo experiencias, vamos recebendo feedbacks de pessoas significativas para nós – pais, professores e mais tarde, de nossos pares, pessoas com quem convivemos socialmente. E esse feedback, de sucesso ou fracasso, vai gerando em nós crenças que tem impacto na forma como lidamos com as demandas e situações de nossa vida, porque vai construindo nossa autoestima.
E se você leu meu último artigo, mostrei de maneira sintética alguns aspectos e comportamentos que ajudem a identificar em qual espectro da autoestima você se encontra. A autoestima envolve a integração do tripé pensamento, sentimento e ação. O primeiro – pensamento – tem a ver com a maneira como a pessoa percebe a si. O segundo – sentimento – com aquilo que sente sobre si em suas relações. E o terceiro – ações – engloba os comportamentos e atitudes, tomadas com mais ou menos confiança.
O padrão desse comportamento não é uniforme para todas as situações de vida. Uma pessoa pode ter um bom conceito sobre si, mas não se sentir confiante em determinadas situações. Um exemplo quase clássico é ser muito autoconfiante no trabalho e submeter-se a um relacionamento tóxico. As redes sociais, a propaganda e a sociedade dos likes estão vinculando cada vez mais a autoestima ao consumo daquilo que supostamente nos deixaria mais felizes, integrados, pertencentes. Somos seres sociais e afetivos, e por isso temos um certo grau de dependência da opinião alheia. Já citei aqui que nós nos reconhecemos através do olhar do outro.

COMO PERCEBER OS SINAIS DE DIFICULDADE PARA ESTIMAR A SI MESMA(O)?

Ao identificar em que ponto está sua autoestima, você pode encontrar o caminho para reconstruir (ou construir) sua autoestima, resgatar sua vida e realizar seus sonhos. Todos nós somos responsáveis por atender nossas carências e demandas. Isso mesmo, nós somos responsáveis por nossas escolhas. Preste atenção em quais são as suas demandas, suas carências e suas crenças. Uma pessoa querer se afirmar, ser mais que os outros tem a ver com a autoestima elevada ou alta. É tentar colocar os outros para baixo, rebaixá-los, e se enganar querendo achar que é mais do que é (arrogância). Já um sinal de autoestima frágil é ser muito sensível a críticas e rejeições, criticar-se demais, querer agradar todos e não poder desagradar quando necessário, não colocar limites no outro. Tem artigo aqui falando sobre a dificuldade de dizer não (colocar limites) nos outros e em si mesma(o). E tem a ver com autoestima baixa, a não valorização de si mesma(o), um sentimento de inferioridade.

CAMINHO PARA DESENVOLVER OS PILARES AUTOESTIMA

É possível reconstruir ou construir nossa autoestima, tornando-nos pessoas mais seguras, com um repertorio comportamental mais assertivo. Por isso falar de autoestima é fundamental para nos ajudar a entender quais são os pontos vulneráveis e ter persistência e esforço para lidar com eles. Quero trazer rapidamente aqui alguns pilares, vamos falar de quatro, que dão sustentação a nossa autoestima.
Vamos começar com o autoconceito, que é a opinião que temos de nós mesmos. Aqui entra a autocritica, a alta exigência. Sabe aquele pensamento “eu deveria…”. Ou aquele “eu não sei fazer nada bem-feito!”. Nesse autoconceito entra nosso rótulos. E se nossos feedbacks foram negativos, entramos no viés autodepreciativo (se ver menos do que é na realidade) ou da arrogância (se achar maior do que na verdade é). Ao perceber que nosso autoconceito está desajustado, o caminho é colocar a atenção para flexibilizar a visão, não focar só no ruim, no que não funcionou.

O segundo pilar é a autoimagem, ou como você percebe a sua aparência, sua apresentação para o mundo. Não estou falando aqui da imagem somente pelo aspecto físico, de atender o padrão vigente de magreza e tal. É o conjunto da sua apresentação, entender quais são suas características, que compõem a sua imagem como um todo, isto é, você é agradável, educado, sabe se relacionar, é flexível, reconhece seus pontos fortes e ressalta eles, conhece seus pontos de melhoria e se ocupa em buscar mudanças ou não ficar focado(a) somente neles, se autodepreciando… Já conversamos aqui neste espaço sobre autoimagem e que somos mais que um corpo. Se não viu, ou tem dúvidas, volta e leia o artigo novamente.

O terceiro pilar é o auto reforço, e refere-se a nossa capacidade de “se reforçar”, “se elogiar”, “se gratificar”. É a estima, o amor direcionado a si mesmo(a). Em outro momento vamos falar sobre a importância do amor-próprio e desmitificar alguns mal-entendidos sobre o tema. No relacionamento afetivo é muito importante demonstrar o quanto amamos o outro, a sua importância em nossa vida. A lógica aqui é a mesma: nutrir a estima por si, com atitudes que reforçam isso. Para nutrir essa estima por si, é importante desenvolver três atitudes básicas: o autoelogio, a auto recompensa e o autocuidado. Como não somos ensinados e estimulados a ter essas atitudes, pode surgir algumas crenças negativas, como “eu não mereço esse elogio”, “não foi nada, é minha obrigação”.

Para algumas pessoas elogiar-se é sinal de arrogância. E aqui entra um ponto essencial, a linha tênue entre desmerecimento e arrogância. É a quantidade, a parcimônia, o reconhecer méritos e erros. Não é elogiar-se e recompensar o tempo todo. Não é tornar-se permissível. Ter uma noção de limites e buscar melhorar, reconhecer o bom e o passível de melhorias é saudável. Aprender a se valorizar é importante. A auto recompensa não significa comprar coisas, sair ou pedir lanches sempre, beber…

Podemos nos recompensar ouvindo uma música que gostamos, nos permitindo dançar, sentar-se para descansar… O autocuidado pode ser um momento que você se permite relaxar, tomar um banho mais demorado, ler um livro sobre algo que você gosta, ouvir música enquanto prepara sua comida… sem a obrigação da produtividade exagerada.
E o quarto ponto é a autoeficácia, basicamente o quanto você consegue confiar em si mesmo(a). Diz respeito a confiança e convicção que temos que seremos capazes de atingir determinados objetivos. Quando não acreditamos em nós, caímos no círculo vicioso de não enfrentar desafios, evitar encarar problemas e desistir diante do primeiro obstáculo. Quando a pessoa acredita ser capaz de lidar de modo satisfatório com as situações vivenciadas, com uma maior expectativa de que terá sucesso, diminui o receio e insegurança frente aos fracassos. Já se o resultado esperado não ocorre, a autoeficácia colabora para entender e aprimorar habilidades e conhecimentos para uma nova tentativa ou enfrentamento de novos desafios.

Uma pessoa com autoestima é uma pessoa dotada de confiança e que valoriza a si mesma(o). O ponto que une tudo: o autoconhecimento. Pesquisas relacionam autoestima ou a sua falta a transtornos mentais. Há correlações entre a baixa autoestima, sentimentos de inadequação e de incompetência e perfeccionismo ligados ao aparecimento de obesidade, transtornos alimentares etc. Quanto mais atentos(as) estivermos a nossa saúde, física e mental, mais estaremos aptos a ter uma vida saudável e feliz. Como extensão desse assunto, temos outro, tão falado quanto e cheio de vieses e falhas na divulgação. Nos encontramos na próxima semana.

Até o próximo.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

@psicofatimabaroni

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