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Fátima Baroni Tonezer

Existe saúde sem saúde mental?

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O conhecimento sobre os fatores de risco salva vidas.

Nas duas últimas semanas venho tratando de uma assunto espinhoso, que no mês de setembro ganha espaço, mas que de maneira geral acaba sendo deixado de lado por ser difícil de lidar e reconhecer. Se você ainda não leu, os artigos estão disponíveis no site do jornal, é só clicar AQUI.

Vários órgãos e entidades, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), alertam para a necessidade de falar sobre o tema e orientar a população. Indica a necessidade de políticas públicas para gerir a situação; ações por parte de jornalistas e profissionais que divulgam conhecimento e informações em mídias de circulação nacional ou regional, incluindo redes sociais; ações efetivas de formação para profissionais, tanto da saúde, como da educação e outras redes de apoio. E hoje quero abordar um pouco sobre um destes aspectos, ou seja, a interferência de transtornos mentais na ideação suicida. Não pretendo esgotar o assunto, somente alertar.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) ressalta a importância de se reconhecer fatores de risco para o suicídio. E um dos principais é o transtorno mental. Quase todos os suicidas têm um transtorno mental, muitas vezes não diagnosticado, frequentemente não tratado ou tratado de forma inadequada. Os transtornos psiquiátricos mais comuns incluem depressão, transtorno bipolar, alcoolismo e abuso/dependência de outras drogas, transtornos de personalidade e esquizofrenia, sendo que o risco aumenta caso o paciente apresente múltiplas comorbidades psiquiátricas.

Quadros de sofrimento psíquico grave, descritos como “transtornos mentais” e “transtornos de personalidade”, constituem importantes fatores associados ao risco de suicídio. Os transtornos mentais são descritos, categorizados e estimulados pelo Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5 (DSM-5) e pelo Código Internacional de Doenças (CID). Assim, a literatura especializada irá recorrer ao conceito de transtorno mental para afirmar, por exemplo, que o risco de suicídio ao longo da vida em pessoas com transtornos do humor (principalmente depressão) é de 6% a 15%; com alcoolismo, de 7% a 15%; e com esquizofrenia, de 4% a 10%, segundo a OMS. O transtorno de personalidade borderline está associado não só às tentativas de suicídio, como também a outros comportamentos auto lesivos. Tais dados indicam a importância da detecção, referenciamento e manejo dos transtornos mentais.

VOCÊ SABIA QUE O TRANSTORNO BIPOLAR ATINGE CERCA DE 140 MILHÕES DE PESSOAS EM TODO O MUNDO?

Quem faz o alerta é a OMS, que vem ressaltando a importância de discutir a bipolaridade, a fim de evitar preconceitos e estigmas. Segundo douto Renato Silva, psiquiatra brasileiro especialista em bipolaridade, apesar de o transtorno ter diferentes tipos, podemos enxergá-lo como um espectro, onde cada pessoa possui uma individualidade e apresenta sintomas e intensidades diferentes. “Quando falamos de identificar o transtorno bipolar, estamos falando de identificar as fases, como, por exemplo, depressão, mania e hipomania”, reforça ele. De acordo com o DSM – 5, a fase da depressão no transtorno bipolar pode ser identificada por diversos sintomas, como: falta de prazer, apatia, alterações no apetite e no sono, alterações na cognição e mudanças no humor.

Já na fase da mania, pode-se citar como possíveis sintomas: pensamento acelerado, impulsos aumentados, autoestima inflada, redução da necessidade de sono, irritabilidade, entre outros. Uma variação nessa fase é a hipomania, que é a fase mais difícil de ser identificada. Normalmente é necessário conhecer a pessoa previamente para identificar que o seu humor e seu comportamento estão diferentes do normal. O diagnóstico deve ser dado por um profissional da área de saúde mental que saberá não só identificar, como sugerir os melhores tratamentos.

FATORES QUE ALERTAM A POSSIBILIDADE DA BIPOLARIDADE

A primeira é a alta densidade genética na família, isto é, três gerações seguidas com o transtorno de humor bipolar. Ser um parente de primeiro grau aumenta as chances de abrir o quadro. Outro fator que deve chamar a atenção é se a depressão se inicia antes dos 20 anos. A depressão unipolar ou maior começa em média aos 30 anos. No transtorno bipolar terá seu início em geral entre 15 e 25 anos. Se a depressão teve início antes dos 20 anos, precisamos pensar na possibilidade da bipolaridade. Uma resposta atípica a antidepressivos, ou seja, se o remédio não fez efeito, ou se o estado piorou com o antidepressivo (demonstrando maior irritabilidade) ou ainda, se fez uma virada para a mania após iniciar o tratamento, também é um indício.

Outro alerta é se a pessoa já fez tratamento com mais de cinco antidepressivos, não obtendo melhora significativa, desconfie.

Um outro fator ainda é a chamada depressão recorrente, isto é, a pessoa já fez de três a cinco episódios depressivos ao longo de sua vida, isto não é o padrão.

Outra pista que alerta para a possibilidade é a labilidade afetiva, isto é, oscilação marcante de humor, com mudanças o tempo todo. Outra questão é o temperamento hipertímico prévio, ou seja, é o temperamento definido como uma personalidade caracterizada por boa disposição, alta reatividade emocional, otimismo, entusiasmo, muita energia e extroversão. É o temperamento da pessoa, mais energia, mais sociável, mas se de repente deprime, acenda o alerta para a bipolaridade.

Mas é importante ressaltar que um fator, ou pista, isolado, sozinho, não define o diagnóstico. É preciso um conjunto, se são quatro ou cinco, é preciso estar atento e desconfiar para a possibilidade. O profissional de saúde, o psiquiatra ou a psicóloga com expertise em transtornos mentais, são indicados para fechar o diagnóstico e indicar o tratamento, com medicamentos e psicoterapia.

TRATAMENTO: É POSSÍVEL CURAR A BIPOLARIDADE?

O Transtorno de Humor Bipolar é uma condição complexa e incurável, isto é, ainda não existe cura, mas existem tratamentos e controle para os sintomas. Importante alertar que, após a estabilização do paciente, conseguida através da medicação adequada, ele precisa estar atento ao tratamento de manutenção e fazer retorno ao psiquiatra nas datas estabelecidas, além de dar continuidade ao atendimento psicoterápico.

Um grande erro cometido pelos pacientes é que, muitas vezes, na primeira melhora, ele abandona o tratamento, mas esse é um tratamento para a vida toda, pois essa é uma doença para a qual ainda não existe cura. Entretanto, após realizado o diagnóstico, se o paciente fizer uso da medicação correta e buscar o acompanhamento constante de um psicólogo, pode, sim, desenvolver suas atividades habituais tanto quanto qualquer outra pessoa.

Com a aplicação das estratégias corretas e os tratamentos cientificamente comprovados, a pessoa pode levar uma vida estável, uma vida melhor e produtiva. Conhecer sobre a bipolaridade contribui muito positivamente para sua própria melhora e estabilidade, conquistando uma vida estável e significativa.

Para fechar este assunto tão essencial, é importante ressaltar que, além dos transtornos mentais, outros fatores de risco, como os citados no artigo anterior e no início deste, são conhecidos e precisam ser reconhecidos, mantendo o alerta. Logo esse assunto não se esgota no dia 30 de setembro. Sempre lembrando é preciso falar, conversas sérias e coerentes, pois conhecimento salva.

No próximo artigo vamos conversar sobre autocuidado.  Continue me acompanhando, aqui e nas redes sociais. E lembre-se que se quiser conversar comigo, é só me chamar.

Até a próxima…

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

@psicofatimabaroni

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