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Fátima Baroni Tonezer

O lado bom do lado ruim. Existem emoções negativas?

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O são emoções e sentimentos? Basicamente, emoções são programas de ação que gerenciam alterações em todo o nosso corpo, que vão desde a secreção de hormônios a ações complexas, como comportamentos, e a depender da situação, atacar ou fugir ou congelar. A serventia delas é não nos deixar perder tempo, nos ajudando a sobreviver. A eficácia, deriva do fato ser automática, não depender da nossa vontade nem racionalidade.

Para tratar desse tema, tão delicado, vou procurar fazer uma abordagem mais lúdica, trazendo a funcionalidade delas em nossa vida. E para isso, vou me basear no modelo de emoções proposto por Paul Ekmann, que fala de seis emoções básicas. Aliás é o modelo que aparece no filme Divertida Mente, filme estadunidense da Disney Pixar, lançado em 2015, que conta a história de adaptação de uma menina as mudanças em sua vida, tanto de estado devido ao trabalho do pai, como de fase, a transição infância/adolescência. Se ainda não assistiu, vale a pena. É um filme infantil feito para adultos.

Neste filme vemos o esforço da personagem Alegria para afastar e negar tudo o que não é prazeroso e leve. Ao mesmo tempo que negar o que estamos sentindo não evita a emoção, por outro lado quando nos permitimos acessar esse lugar, podemos avançar no entendimento da situação. Algumas emoções negativas num primeiro momento, incomodam muito e parecem não ter nenhuma função. Culpa, pesar, desapontamento, inveja, ciúmes, por exemplo, podem surgir quando as coisas saem do nosso controle e não ocorrem como queremos. Todas essas emoções rodeiam a tristeza. Se pensarmos que o medo nos protege de perigos e a raiva nos prepara para batalhas, qual seria a função da tristeza, além de causar dores na alma? Só incomodar e doer?

O mundo não é, e nunca será, como queremos. E aprender a lidar com esse descompasso entre nossos desejos e realidade é crucial. Porém existem diversos aspectos de  nossa vida que podemos modificar, seja em nosso redor, nas nossas relações ou em nós mesmos. A tristeza é útil para identificar e entender as situações, ser mais criativos. Grandes obras, pinturas, músicas e  poemas foram frutos de momentos de tristeza de seus autores.    

POR QUE PRECISAMOS DE EMOÇÕES? O QUE HÁ DE BOM EM SENTIR TRISTEZA, RAIVA E OUTRAS EMOÇÕES NEGATIVAS?

Depois que uma emoção aparece, quando estamos nos sentindo tristes, ansiosos ou com raiva, por exemplo, respondemos a ela com nossos pensamentos a seu respeito e com as estratégias para lidar com ela. E respondemos a cada emoção segundo uma gama de crenças e estratégias que desenvolvemos durante nossa vida. São o que chamamos de esquemas emocionais, ou de forma simples, como você pensa a respeito e responde às próprias emoções. E a forma como pensamos e agimos quando temos uma emoção pode melhorar ou piorar a situação.

EMOÇÕES DIFICEIS E DESAGRADÁVEIS FAZEM PARTE DA EXPERIÊNCIA HUMANA

Se achamos que não devemos nos sentir ansiosos, vamos ficar “ansioso por nos sentir ansioso”. Se você sente culpa por sentir raiva, então se sentira com raiva, culpado, ansioso e confuso. Se acha que nunca deve sentir inveja de alguém que está numa situação melhor, então terá dificuldade para enfrentar as desigualdades da vida diária. Essa gama de emoções foram as responsáveis, durante a evolução humana, pela nossa adaptação aos riscos, aos conflitos e às demandas da vida em um mundo de escassez e perigos. Emoções desagradáveis e dolorosas são universais.

O medo é um ótimo alarme, um excelente vigia, nos mantem alerta, nos avisa da existência de um problema. Porém para entender o significado do problema, para entender como funcionam as coisas, a tristeza é melhor. Já que ela propicia a reflexão, um olhar mais atento, nos ajuda a diferenciar a verdade da mentira. O medo não é um bom agente de mudança. Quem favorece a mudança é a raiva e a indignação. Logo: o medo faz ver o  problema. A tristeza faz entender o problema. E a raiva e a indignação nos ajuda a transformar o problema. E o nojo? Esse, nos mantem vivos ao nos afastar de possíveis contaminações, tanto de substâncias venenosas e alimentos estragados, como de atitudes e comportamentos que “agridem” nossos valores e princípios.

A BUSCA DESENFREADA PELA FELICIDADE, MARCA DO SÉCULO XXI

Vivemos numa época em que somos levados a crer que é importante estar feliz e alegre o tempo todo. A alegria é uma emoção do espectro positivo, agradável de sentir. Contudo, a busca pela alegria e felicidade perene nos leva perigosamente para o lado da euforia e do tédio. Na busca desenfreada pelo “bem-estar” disfarçado de novidade e recompensas imediatas, não medindo esforços para obter, perdemos a noção de perigo e consequências. E quando não logramos êxito na busca de felicidade em todos os momentos do dia, sentimos frustração, decepção. Atualmente  parece que sorrir e estar feliz tornou-se uma obrigação de todo cidadão. Em que momento perdemos a mão com a alegria não sabemos, mas a alegria como qualquer emoção, deve ser passageira, já que tudo tem limite.

A alegria, enquanto emoção intensa, pode prejudicar nosso raciocínio. É só você pensar em alguma situação em que estando alegre, feliz, prometeu coisas que depois se arrependeu. Isto porque a capacidade de reflexão profunda é prejudicada pela alegria intensa. Não é muito fácil admitir, mas o otimismo, a alegria intensa, nos faz agir como tolos. Basta ver também como é um mecanismo utilizado pelo marketing para vender, já que a euforia leva as pessoas a aderir, movidas por um otimismo irracional, até um ponto que se torna insustentável, onde o exagero fica claro. Ai, surge o pânico e o desespero. A alegria intensa, tornada euforia, pode ser um sinal de que algo não vai bem em nosso cérebro. O exemplo mais claro talvez seja a fase da Mania no Transtorno de Humor Bipolar.

Claro que há o lado bom da alegria. Faz parte das emoções positivas, ou agradáveis de sentir, junto com a gratidão, esperança, otimismo, felicidade. Não é ruim querer sentir-se bem. O ponto central aqui, é que como nas emoções negativas ou desagradáveis, não podem ser vistas como um fim em si mesmas, mas consequências de outras coisas que fazemos, como trabalhar com disposição, estabelecer e manter bons relacionamentos, disponibilizar tempo para realizar coisas que sejam prazerosas. Entender que nem tudo que farei terá resultados imediatos, recompensas e prazer. Algumas vezes demora, outras não vem. E está tudo bem não estar tudo bem o tempo todo.

E isso nos leva a outro tipo de situação, onde uma emoção, ou emoções, podem nos levar, e levam inexoravelmente a procrastinação, autossabotagem, sofrimento. Fica comigo, continua me acompanhando, aqui no jornal e nas minhas redes. E se quiser trocar uma ideia sobre esse ou qualquer outro tema, me chame.

Até a próxima…

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

@psicofatimabaroni

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